terça-feira, setembro 30, 2003

E...

Não tenho palavras para as tuas palavras.
Se tudo o resto morrer, valeu a pena...valeram pena todos os meus gritos,
os meus choros a minha completa inoperância perante ti, o meu profundo terror,
a minha angustiante certeza de que não me amavas, que não vivia
nem me mexia dentro de ti...enquanto tu eras tudo.
Passaram horas e horas e gestos e choros e risos que despejei nos outros,
sempre escondendo o teu nome, olhando com ódio para quem me queria,
olhando os esforços dos outros....e chorando e gritando cá dentro
"NÃO TE APROXIMES MAIS, MATO-TE SE ME TOCARES".
E procurando-te pelos cigarros que comecei a fumar (talvez para te cheirar),
para te adivinhar nas ruas que percorri sextas e sábados de noite,
nos livros que deixas-te, na tua roupa que se enforca no armário,
e na cama, nos lençóis que por terem o teu cheiro ali se mantiveram quase um mês...

Pensava que desconhecias tudo isto, toda a mágoa que se pode trazer,
no peso que se carrega todos os dias, neste coisa gelatinosa
que nos prende os movimentos.
E os gritos cá dentro, os gritos, as fúrias, a solidão,
as horas na segunda circular parada no trânsito a chorar,
os olhos turvos de lágrimas e continuava a conduzir e pensava,
pensava como me podia deixar cair tanto, como podia amar tanto...
E Agosto, esse mês que sempre odiei não sei porquê,
o murro no estômago ao abrir os olhos e ver-te sentado com outra,
a dor que me invadiu, e a queda cá dentro, as palavras na minha cabeça "MORRO".
Sair, continuar andar com o grito na garganta e depois o choro em casa, só.

Hoje é o último dia de Setembro, mas amanhã será Outubro,
o meu mês, o mês dos meus casacos pretos, dos meus cascóis,
das minhas camisolas de gola alta, o mês dos dias cinzentos aquecidos em casa.
Amanhã será Outubro, haverá castanhas assadas,
e o Porto e Tindersticks e tu....e existirás tu.
.

Sem comentários: