sexta-feira, julho 02, 2004

e nada ficou como dantes...

-Fala mais alto.
-Não quero.

-Fala mais alto. Quero sentir-te.
-Não posso. Não quero.

-Quando fals baixo, sinto-me encurralada.
-Porquê?

-Porque começo a sentir-te mais do que desejaria.
-Quanto mais?

-Fala mais alto, por favor.
-Quanto?

-Metade deste oeano.
-Tu é que quiseste ficar.

-Tu é que quiseste partir.
-Sim.

-Sim, o quê?
-Sim, eu quis partir.

-Diz o meu nome.

-Diz o meu nome.Tens medo de dizer o meu nome.
De repente posso entrar na mesma terra que tu e procurar-te.
Assombrar-te.
-Eu sou a terra onde estou.

-Pensei que eu era a tua terra.

-Diz-me um poema.
-Agora?
-Agora. Inventa-o.

-Vou-me embora.Diz-me um poema para eu desligar.
-Começa como?

-Não sei.
-Diz.

-Sim.
-Fala mais alto.

-Lembras-te do telhado com a janela de cortinas azuis?
-E do gato.

-O gato está à janela.
-Sou eu.

-Diz o meu nome.
-Desliga quando eu disser.

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