sexta-feira, agosto 06, 2004

Tréplica


Tens razão, tu e eu

não nos voltaremos a ver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro pedro, de novo ao teu encontro para também eu chupar desses ossos a ternura e genialidade com que dissolveste a vontade dos outros numa meia vontade de não ter vontade absolutamente nenhuma.

Gostaria, amigo pedro, de entender como é possível tanto fogo na água ou ainda como fazes para roubar frutos sem abater árvores.

Será, sem dúvida, esse olhar amigo, esse corpo que exibes sem pudor ou mesmo essa conversa fiada de cavalheiro em horário de engate com que encantas a noite dos outros.

Fazes bem, caro pedro, fazes muito bem. O resultado está à vista: montaste o cerco, procedeste com minúcia à avaliação do saque, estendeste a mão e puxaste a laranja. Tudo, repara pedro, sem uma única gota de sangue, sem uma chama de fósforo, tudo claro e evidente. Tudo fácil e bem recebido. A laranja expondo-se ao toque recebido na casca mas sentido na polpa. Terá sido esse fechar de punho que subiu a escada da espinha e incendiou a gula de alguém.

De facto, caro pedro, és genial. Não só porque escondes a imbecilidade disto tudo ( sim não tenhas pejo em o admitir), mas, porque conseguiste entender o segredo: em terra seca duas lágrimas bastam para fazer brotar um jardim.

Afinal, tonto de mim, é pela ternura que principia o desejo, não pela verdade. E, de facto, se reparares pedro, só assim podia mesmo ser. De que vale, afinal, a verdade? A verdade é uma coisa velha e gasta e o pior é que todos a conhecemos como um ultraje à imaginação. Quase um desafio. Um carro velho que todos sabemos ficar sempre a meio do caminho.

É portanto natural que, quando os olhos se fecham e as luzes se apagam, a laranja se dê se entregue e seja tua, como nunca foi de ninguém. No escuro, caro pedro, a laranja foi tua muitas vezes que a comeste também no escuro sem disso saberes. Mas, e aqui reside o teu grande feito, amanheceu. Os olhos abriram-se surgiu a luz e tu, caro pedro, és um genial ternurento.

E agora, amicíssimo pedro, que estás a dois passos de levar essa laranja à boca e pensas se o deves fazer por inteiro ou gomo a gomo ( como os vitoriosos ), permite-me ainda dois conselhos.

Não a comas com açúcar que lhe adúltera o sabor nem tão pouco a descasques com uma faca.
O açúcar tudo perverte e quando acaba confronta-te com o amargo e com a desilusão. Come-a ao natural é mais correcto, menos falso.
Por outro lado, caro pedro, jamais uses uma faca. As facas, ainda não sabes, são ferramentas extraordinárias. Têm a horrível capacidade de mudarem de mão e por isso, nada te garante – apenas eu – que um dia não vejas uma apontada à tua garganta.