sexta-feira, janeiro 14, 2005

E quando saí de manhã, só me lembrava das bolas de sabão que fazias com as mãos!



*
queria dizer-te tudo agora, amarrar-te as mãos e levar-te pelas ruas sem gente, trincar pão fresco e dizer-te tudo e então descobrir que afinal nunca saíramos da cama. esticar-me em ti, puxando-te lentamente. buscar-me na definitiva perfeição do teu sorriso. pedir-te desculpa de uma vez por todas.queria muito.


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Carina,


- não durmo;
- não penso;
- não como;
- não me concentro;
- não trabalho;
- não escrevo;
- não me organizo;
- não evito acidentes;
- não seguro as coisas pelas pontas;
- não, não estou com ninguém - mas estive contigo ontem e anteontem e, talvez por isso
- não durmo;
- não penso;
- não como;
- não me concentro;
- não trabalho;
- não escrevo;
- não me organizo;
- não evito acidentes e
- não seguro as coisas pelas pontas.

sussurrei - te dia 10 sem virgulas certas:
.... dentro mim guardo sempre o teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até ao fim e ao fundo disso que não vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos as insónias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções nocturnas,
e lentamente falas,
e lentamente calo,
e lentamente aceito,
e lentamente quebro,
e lentamente falho,
e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir afunda-me mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui,
agora,
assim,
se outra vez não viesses e me cegasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba assim nem agora nem aqui....
mas não ouviste.

Apetece dizer como o outro: "Eu sei que estou fodido". Mas isso há muito que não traz qualquer conforto. Tenho dois buracos no indicador esquerdo - é o que tenho e não tenho mais nada.

Sei que não estás muito longe disto e que :

- não dormes;
- não pensas;
- não comes;
- não te concentras;
- não trabalhas;
- não escreves;
- não te organizas;
- não evitas acidentes;
- não seguras as coisas pelas pontas
- não, não estás com ninguém (e isso teria a força das facas), mas estiveste comigo ontem e anteontem e , talvez por isso
me custa o arrependimento dos litros de álcool ou das coisas partidas, esse bolor ,esse bolor podre espalhado pela casa, que alimentou leões na minha cabeça, quase tão doente como a tua.
Não há embalo para tanta mudez quando dou por mim a escorrer lágrimas numa fraqueza que não reconheço, num hábito que era só teu. Dou por mim naufragado no teu colo, dou por mim agarrado a esse esforço, a essa novidade tão tardiamente descoberta em ti que não sei se é falsa ou se tem a força da barra ou do mar contra a barra ou lá como era a música de que gostavas tanto e que só me lembrava a Av. dos Alidados.
Aviso-te: isto vai voltar a acontecer. Vou partir mais coisas usando os pés e as mãos fechadas. Se tiver de beber ainda mais, também isso será feito. Se estiveres com alguém lembra-te que sei usar uma faca. Garanto-te isto e a caça aberta aos olhos dos outros, aos telefonemas dos outros, ás conversas dos outros, aos pénis dos outros - a quem chamarei sempre de filhos da puta, por me terem roubado o juízo.
Prometo-te ainda tudo o mais que vier a ser preciso para sererm sempre 7 da manhã do dia 27 de Setembro de 2003. Para te encontrar com essa forçanovidadede de que afinal dependo tanto...estavas assim tão forte ou estava assim tão esquecido?

Encontro apenas uma justificação para tanto nojo: tu amas-me ainda.
E nessa lotaria de sentimentos fizeste-me vencedor.
E custa, acredita que muito, saber que pensas que não não enfeitei a mesa ou acendi velas para ti; que não escolhi vinhos na miragem do teu corpo e que não festejámos juntos o meu prémio tão nosso, tão secreto afinal, para mim e para ti.
.......

Não continuo mais isto. Acabas de me ligar "eu quero mas nao sei se fará bem". Eu também não sei ... mas as coisas entre nós, parece-me, nunca foram decididas dessa forma´..é que tu és a Carina e eu sou o Ricardo . Há dias em que não vejo nada mais bonito do que isso.

Ricardo Bernardo.

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